EIXOS DE PESQUISA

Gravura de F. Goya, 1834. Fonte: Adobe Stock.

Dividimos nossa atuação em três eixos e aproveitamos o conceito de “ficção” para indicar que, em todos eles, estamos pensando com o Demo — portanto, sem ancoragem em supostas verdades, identidades e privilégios ontológicos. O primeiro eixo traça ficções filosóficas do design, o segundo, ficções históricas do design, o terceiro, ficções projetuais de futuros.

Design – Ficção – Filosofia

Neste eixo, procuramos pensar o design a partir da filosofia e a filosofia a partir do design. O ponto de partida é uma recusa da tradicional separação entre pensar e fazer. Se não há verdade, se o pensamento não pode espelhar uma suposta realidade independente, então pensar é criar. Mas todo criar mobiliza sentidos e valores, mesmo que de forma inconsciente, de modo que criar é também pensar. Acreditamos que duas abordagens contemporâneas são particularmente proveitosas para essa tarefa de olhar em conjunto para o pensar e o fazer: a teoria ator-rede e o design ontológico. Além de confundirem a fronteira entre pensar e criar, essas abordagens também questionam o modo como concebemos a agência. Elas pensam o design a partir de uma concepção diluída da agência, a qual desloca o foco do designer e dos métodos para uma rede complexa que inclui humanos e não humanos em relações múltiplas e imprevisíveis.

Bibliografia básica. [1] D. B. Portugal, The Thing in Fiction (EN); [2] A.-M. Willis, Ontological Designing (EN); [3] B. Latour, A Cautious Prometheus? (EN).

Projetos. Rumo a uma abordagem hermenêutica do design (2020 – ).

Design – Ficção – História

“Tudo é histórico, logo a história não existe”. Assim predicou Paul Veyne em seu livro Como se escreve a história. Porém, se a história não existe, estará o Demo perseguindo fantasmas quando sai em sua busca? Entender a história como a busca de um passado que realmente aconteceu é, para nós, o único fantasma a ser exorcizado. Isto porque, para que a história exista, é preciso que alguém acredite nela. Pensar a história é, na raiz, um ato de fé. Suspender a fé e olhar o passado com os olhos do presente buscando encontrar o que a linguagem dos sucessivos presentes escondeu do passado é o principal desafio hermenêutico do Demo. Assim, a realidade de um passado real se esfuma como uma nuvem: se apresenta como (mais uma) ficção. E se o passado é uma ficção, qual é o papel da imaginação no acreditar e no não acreditar naquilo que se vê, naquilo que se oculta e naquilo que se desvela? Qual a utilidade da história como imaginação no mundo funcionalista dos modernos? Ou, repetindo Nietzsche, qual a vantagem e a desvantagem da história para a vida? Sobretudo para a vida dos designers?

Bibliografia básica. [1] W. Hagge, Um, nenhum, cem mil (Em breve). [2] R. Buchanan, Rhetoric, Humanism, and Design (EN); [3] C. Dilnot, The state of design history I (EN).

Design – Ficção – Futuro

Partindo do trabalho teórico dos outros dois eixos e de uma aproximação com o cinema, com a literatura e com outros campos criativos, este eixo explora o universo do  design especulativo. Usamos esse nome, seguindo Ivica Mitrović, para indicar uma prática projetual que questiona os tradicionais pressupostos mercadológicos, metodológicos e ideológicos do design e que se utiliza desses questionamentos para construir visões de futuros possíveis. “Questionar” indica aqui um tipo de suspeita que não se submete a nenhuma pretensa verdade — pouco importa se é a verdade dos opressores ou dos oprimidos, do progresso ou da revolução, da técnica ou da natureza. O design especulativo que interessa ao Demo não trará nenhuma salvação para o mundo, mas pode — esperamos — ajudar a potencializar nossas capacidades projetuais e a congregar múltiplos atores para a construção do futuro.

Bibliografia básica. [1] I. Mitrović, Introduction to Speculative Design Practise (EN); [2]
J. Bleecker et al, The Manual of Design Fiction (EN).

Projetos. Urban Future Scenarios under Climate Change (2022 – )